LÁGRIMA DE ESPUMA
Heitor Lavor
(Da TERÇA-FEIRA EM PROSA E VERSO)
Eu fico olhando, às vezes, para o mar
E, em suas águas verdes, turbulentas,
Ouço fúria de séculos de tormentas,
Que se passaram e inda vão passar.
Penso, noutra hora, ouvir naquelas águas
O balbucio leve de uma prece
Rezada docemente e, me parece,
Eivada de tristeza e fundas mágoas.
Noutro instante, das águas na garganta,
Soar parecem flautas, violinos,
Que, em arpejos suaves e divinos,
Minh"alma tocam e isso me encanta
Não obstante todos os tormentos,
Eu nunca ví rolar na sua face
Uma lágrima, sequer, que demonstrasse
Suas dores, pesares, sofrimentos.
No entanto, pesaroso, o velho mar
Solta espuma que vem de dentro dele,
Que, soluçando, pela praia expele,
me pondo a refletir e ponderar:
É a sua maneira de chorar?
Não consigo entender mais coisa alguma!...
Será, então, que toda aquela espuma...
Será que a espuma é a lágrima do mar?!